Você ainda gerencia suas VMs no Proxmox? Se você está buscando evoluir seus estudos de cloud computing e se aproximar mais de ambientes enterprise reais, talvez seja hora de repensar sua stack de virtualização. Neste post, vou compartilhar os motivos que me levaram a migrar meu homelab de Proxmox e OpenStack para o Apache CloudStack, e como essa decisão transformou minha experiência de aprendizado.
Por que não Proxmox?
Não me entenda mal - o Proxmox é uma excelente plataforma de virtualização. É gratuito, tem uma interface web intuitiva, gerencia tanto containers LXC quanto VMs KVM, e funciona muito bem para a maioria dos homelabs. Muitos profissionais de TI usam Proxmox com sucesso em seus laboratórios.
As Limitações do Proxmox para Estudos Avançados
No entanto, quando você começa a se aprofundar em conceitos de cloud computing e infraestrutura como código (IaC), algumas limitações aparecem:
API limitada para automação avançada - Embora o Proxmox tenha uma API, ela é principalmente voltada para operações básicas de CRUD (criar, ler, atualizar, deletar) em VMs e containers.
Não é uma plataforma de cloud real - O Proxmox é um hypervisor com interface web, não uma plataforma de orquestração de cloud. Conceitos como multi-tenancy, service offerings, e network orchestration não são nativos.
Distância do mundo enterprise - Pouquíssimas empresas usam Proxmox em produção. Se seu objetivo é aprender tecnologias relevantes para o mercado, você precisa de algo mais próximo do que é usado em datacenters reais.
Automação com Terraform limitada - Embora exista um provider do Terraform para Proxmox, a experiência não se compara com providers de clouds públicas ou plataformas enterprise de IaaS.
Se você só quer rodar algumas VMs e serviços em casa, Proxmox é perfeito. Mas se você quer simular um ambiente de cloud real e aprender tecnologias enterprise, precisa de algo mais robusto.
E o OpenStack? Por que não?
Depois do Proxmox, muitos entusiastas consideram o OpenStack como o próximo passo natural. Afinal, é a plataforma de cloud privada open-source mais popular, usada por grandes empresas e provedores de cloud.
O Problema: OpenStack pode ser “Overkill”
O OpenStack é fantástico, mas vem com suas próprias complicações:
Complexidade extrema - O OpenStack é composto por mais de 30 projetos diferentes (Nova, Neutron, Cinder, Glance, Keystone, etc.). Cada um tem suas próprias configurações e quirks.
Requisitos de hardware - Para rodar o OpenStack adequadamente, você precisa de recursos significativos. Um deployment mínimo já consome muita RAM e CPU.
Curva de aprendizado íngreme - Antes de começar a usar o OpenStack como plataforma de estudos, você precisa investir semanas (ou meses) só para entender como instalá-lo e configurá-lo corretamente.
Manutenção trabalhosa - Upgrades, troubleshooting e manutenção do OpenStack podem consumir mais tempo do que você realmente gostaria de gastar em um homelab.
Mercado mais nichado - Embora o OpenStack seja usado em produção, sua adoção está mais concentrada em telecoms e grandes clouds privadas. Para a maioria dos profissionais, não é a tecnologia que vão encontrar no dia a dia.
Para mim, o OpenStack acabou sendo um peso maior do que o benefício que trazia. Eu queria estudar conceitos de cloud e automação, não passar semanas debugando o Neutron.
A Decisão: Apache CloudStack
Depois de avaliar as opções, decidi migrar para o Apache CloudStack. E essa escolha mudou completamente minha experiência com o homelab.
Por que CloudStack?
O CloudStack oferece o melhor dos dois mundos:
1. Plataforma de Cloud Real
Diferente do Proxmox, o CloudStack é uma plataforma de orquestração de cloud IaaS completa, com:
- Multi-tenancy nativo - Suporte para múltiplos usuários, domínios e accounts
- Service Offerings - Templates de recursos (CPU, RAM, disco) como em clouds públicas
- Network Orchestration - VLANs, VPCs, Load Balancers, VPNs, tudo gerenciado pela plataforma
- Storage Management - Primary e Secondary Storage, templates, snapshots, volumes
- Autoscaling e High Availability - Recursos enterprise nativos
2. Mais Simples que OpenStack
O CloudStack tem uma arquitetura muito mais enxuta:
- Uma única aplicação (Management Server) ao invés de dezenas de serviços separados
- Instalação e configuração mais diretas - Em poucas horas você tem um ambiente funcionando
- Manutenção mais simples - Menos componentes = menos pontos de falha
- Documentação mais coesa - Tudo em um lugar, não fragmentado em 30 projetos diferentes
3. Relevância no Mercado
O CloudStack é usado em produção por diversos provedores de cloud ao redor do mundo:
- Provedores de cloud - Como a Leaseweb, ShapeBlue, e outros na Europa, Ásia e América Latina
- Empresas de telecomunicações - Várias telecoms usam CloudStack para seus serviços de cloud
- Empresas que precisam de cloud privada - Especialmente em setores regulados que não podem usar cloud pública
Conhecer CloudStack pode abrir portas em empresas que operam infraestrutura de cloud privada ou híbrida.
4. Excelente para Automação e IaC
O CloudStack tem uma API extremamente completa e bem documentada, e o provider do Terraform para CloudStack é maduro e bem mantido. Isso significa que posso:
- Provisionar toda minha infraestrutura como código
- Criar e destruir ambientes completos com um comando
- Simular cenários reais de deploy de aplicações cloud-native
- Praticar GitOps e CI/CD para infraestrutura
Minha Topologia Atual
Aqui está como estruturei meu homelab com CloudStack:
Infraestrutura Física

Componentes
Management Server
- VM/máquina dedicada rodando o CloudStack Management Server
- Responsável por toda orquestração, API, e interface web
- MySQL/MariaDB para banco de dados
- NFS para Secondary Storage (templates, snapshots, ISOs)
KVM Hosts (2 nós)
- Servidores físicos ou VMs poderosas rodando KVM
- Conectados via libvirt ao Management Server
- Primary Storage local ou compartilhado (NFS/iSCSI)
- Cada host em uma VLAN de management separada
Switch Gerenciável
- Suporte a VLANs (essencial para segregação de rede)
- VLAN de Management (comunicação CloudStack ↔ Hosts)
- VLANs de Guest (redes das VMs criadas)
- VLAN de Public (acesso externo/internet)
- VLAN de Storage (tráfego NFS/iSCSI, se aplicável)
Por que essa topologia?
Essa configuração simula um datacenter real em escala reduzida:
- Separação de funções - Management separado do Compute
- Alta disponibilidade - Dois hosts permitem testes de migração de VMs, redundância, etc.
- Networking enterprise - VLANs segregando diferentes tipos de tráfego
- Escalabilidade - Fácil adicionar mais hosts KVM conforme necessário
Diferente do Proxmox onde você teria VMs gerenciadas individualmente em cada nó, no CloudStack você tem uma camada de orquestração centralizada que gerencia todos os recursos como um pool unificado - exatamente como AWS, Azure, ou GCP fazem.
Benefícios que Experimentei
Desde a migração para CloudStack, tenho aproveitado diversos benefícios:
1. Aprendizado de Conceitos Enterprise
- Zones, Pods, Clusters - Hierarquia de datacenter real
- Service Offerings - Como criar “planos” de VMs (igual t2.micro, t2.large da AWS)
- Network Offerings - Diferentes topologias de rede (isolada, VPC, shared)
- Accounts e Domains - Multi-tenancy real
2. Automação Avançada com Terraform
Posso provisionar infraestrutura completa via código:
resource "cloudstack_instance" "web_server" {
name = "web-server-01"
service_offering = "Medium Instance"
template = "Ubuntu 22.04"
zone = "lab-zone-1"
network_id = cloudstack_network.app_network.id
}
resource "cloudstack_network" "app_network" {
name = "app-tier-network"
cidr = "10.1.1.0/24"
network_offering = "DefaultIsolatedNetworkOffering"
zone = "lab-zone-1"
}Isso me permite praticar Infrastructure as Code de verdade, com uma plataforma que se comporta como clouds públicas.
3. Ambiente de Testes para Certificações
Se você está estudando para certificações cloud (AWS, Azure, GCP), ter um CloudStack local ajuda a entender conceitos fundamentais de IaaS:
- VPCs e redes isoladas
- Security Groups
- Load Balancers
- Storage (Block Storage, Object Storage)
- Templates e Images
4. Experiência de API Real
A API do CloudStack é REST, bem documentada, e extremamente completa. Isso significa que posso:
- Integrar com scripts Python/Go/Bash
- Criar ferramentas customizadas
- Simular cenários de automação que encontraria em empresas reais
Desafios e Como Superei
Claro, nem tudo são flores. Aqui estão alguns desafios que enfrentei:
1. Curva de Aprendizado Inicial
Desafio: Entender a arquitetura do CloudStack (Zone → Pod → Cluster → Host) leva um tempo.
Solução: A documentação oficial é excelente. Dediquei alguns dias lendo e fazendo testes em VMs antes de montar o ambiente definitivo.
2. Requisitos de Rede
Desafio: CloudStack exige um switch gerenciável com suporte a VLANs.
Solução: Não é obrigatório, mas é recomendado, pois pode ser configurado sem a necessidade de um switch gerenciável. Investi em um switch gerenciável básico (TP-Link TL-SG105E ou similar). Não precisa ser enterprise-grade, apenas suportar VLANs 802.1Q.
3. Storage
Desafio: Configurar NFS para Secondary Storage pode ser confuso no início.
Solução: Usei o próprio Management Server como servidor NFS para começar. Depois, irei migrar para um NAS dedicado conforme for escalando ou até mesmo nem usar .
4. Debugging
Desafio: Quando algo dá errado, os logs podem ser extensos.
Solução: Aprendi a usar o CloudMonkey (CLI do CloudStack) e a ler os logs em /var/log/cloudstack/management/. Com o tempo, ficou mais fácil identificar problemas.
Próximos Passos
Agora que tenho um ambiente CloudStack funcionando, meus próximos passos são:
- Automatizei todo o deployment com Ansible - Provisionar a instalação do CloudStack
- Automatizei todo o deployment com Terraform - Provisionar a infraestrutura base via código, com Kubernetes
- Implementar CI/CD - Pipeline completo de infra + aplicação
E claro, no próximo vídeo vou trazer um tutorial passo a passo de como você pode levantar o CloudStack localmente no seu próprio homelab usando ansible!
Conclusão: Vale a Pena Migrar?
A migração do Proxmox para o CloudStack foi uma das melhores decisões que tomei para meu homelab. Se você:
- ✅ Quer aprender conceitos de cloud computing de verdade
- ✅ Busca uma plataforma relevante no mercado enterprise
- ✅ Gosta de automação e Infrastructure as Code
- ✅ Quer simular um datacenter real em casa
- ✅ Não quer a complexidade absurda do OpenStack
Então o Apache CloudStack pode ser a escolha perfeita para você.
Comparação Rápida
| Critério | Proxmox | OpenStack | CloudStack |
|---|---|---|---|
| Facilidade de instalação | ⭐⭐⭐⭐⭐ | ⭐⭐ | ⭐⭐⭐⭐ |
| Recursos de cloud IaaS | ⭐⭐ | ⭐⭐⭐⭐⭐ | ⭐⭐⭐⭐⭐ |
| Complexidade | ⭐ | ⭐⭐⭐⭐⭐ | ⭐⭐⭐ |
| Qualidade da API | ⭐⭐⭐ | ⭐⭐⭐⭐ | ⭐⭐⭐⭐⭐ |
| Terraform support | ⭐⭐⭐ | ⭐⭐⭐⭐ | ⭐⭐⭐⭐⭐ |
| Relevância no mercado | ⭐⭐ | ⭐⭐⭐⭐ | ⭐⭐⭐⭐ |
| Requisitos de hardware | ⭐⭐⭐⭐ | ⭐⭐ | ⭐⭐⭐⭐ |
| Documentação | ⭐⭐⭐⭐ | ⭐⭐⭐ | ⭐⭐⭐⭐⭐ |
Para quem é cada plataforma?
- Proxmox: Ideal para quem quer um hypervisor simples e eficiente para rodar VMs e containers sem complicação
- OpenStack: Para quem quer estudar a plataforma específica (trabalha com OpenStack ou pretende trabalhar) e tem hardware robusto
- CloudStack: Para quem quer aprender cloud computing enterprise, automação, e IaC sem a complexidade do OpenStack
Recursos e Links Úteis
- Documentação Oficial do Apache CloudStack
- CloudStack GitHub
- Terraform Provider para CloudStack
- CloudMonkey CLI
- Comunidade CloudStack
Fique ligado no próximo post/vídeo onde vou mostrar o tutorial completo de instalação do CloudStack passo a passo!
Já usou CloudStack? Tem dúvidas sobre a migração? Deixa nos comentários!

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